quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Praga: lembranças de um perrengue

Toda boa viagem que se preze tem seu perrengue e a minha não foi diferente. Cheguei em Praga muito ansiosa, pois era uma cidade que eu não conhecia e todo o "feitiço" que parece permear a cidade me contaminou no dia em que comprei minha passagem para lá. O perrengue já começou quando comprei minha passagem de Praga para Paris, pois na metade da compra o site ficou em tcheco e eu fiz a compra no escuro. Felizmente deu certo e este seria o menor deles.

Na minha primeira noite eu saí para jantar no Café Louvre, que é um restaurante fundado em 1902 e que já teve entre seus clientes Franz Kafka, Karel Capek, Albert Einstein entre outros. De lá resolvi esticar num bar de rock que fica embaixo do Louvre, o Rock Cafe. Eu estava seca para experimentar uma cerveja tcheca e fui direto para o balcão. Depois de muito tempo eu fui atendida por um barman já de meia-idade que inicialmente foi muito simpático comigo. Pedi uma cerveja de 500ml que custava 32Kc e paguei com uma nota de 100. Ele me deu a cerveja e saiu. Quando retornou eu pedi a ele o meu troco. A surpresa veio com os gritos dele pedindo para eu ir embora porque ele odiava americanos (ahn?). Tentei falar com as outras pessoas que trabalhavam no bar sobre o meu troco, mas elas pediam para eu me virar com ele. Resolvi que não saíria de lá enquanto não tivesse meu troco até ser salva por um grupo de estudantes alemães que assistiram o episódio e notaram que eu estava sozinha.

Tomei minha cerveja depois de muito bate-boca com o cara e ter conseguido resgatar 35Kc do meu troco. Voltei ao bar para pegar uma segunda cerveja decidindo não pagar por ela, porém foi novamente um stress porque ele queria que eu pagasse e só então surgiu um outro cara que parecia ser o gerente, relatei minha história e então ele me deu a cerveja e não cobrou. Obviamente eu o olhei com um sorriso sarcástico e no meu retorno ao Brasil escrevi para o Lonely Planet, que indicava o lugar na última edição do guia Praga, e para o próprio bar. Ambos responderam. O LP vai reavaliar o local e o bar prometeu tomar as devidas providências. Esse foi o meu primeiro perrengue do que seria uma série deles.

No segundo dia levantei cedo e fui para o Castelo de Praga. No segundo tram do dia eu fui parada por um fiscal. Calmamente coloquei a mão no casaco para pegar o bilhete e quem disse que o bilhete estava lá? Obviamente eu perdi o bilhete e não me dei conta. Além do constrangimento, eu também tive que pagar uma multa equivalente a 25 euros, o que dou bastante.

O maior perrengue foi na minha partida da cidade. Comprei uma passagem para Paris por 0,01 euro e o horário de partida era 6h30 da manhã. Eu estava na casa de um Couch Surfer em Chadov, que fica quase no extremo sul da cidade. Como o aeroporto fica a noroeste, ele recomendou que eu fosse para lá a noite para não ter que gastar uma fortuna com táxi, pois não chegaria a tempo caso pegasse o primeiro trem. Saí de casa por volta das 23h e neste dia estava nevando. Como já era final de viagem, as malas tinham aumentado. Eu tinha uma mala de rodinhas que já estava com 22kg, uma mala de mão que tinha pelo menos 5kg e a minha bolsa. Andei por 1km até a estação, escorreguei na neve, bati a bunda no chão... a noite já prometia!

Eu tinha decidido ir até a estação central, que é Holesovice para pegar o ônibus expresso para o aeroporto. De acordo com meu entendimento o ônibus passava a cada 1h durante a madrugada. Cheguei lá às 23h30 e de acordo com o timetable, o ônibus passaria à 0h. Só tinha eu no ponto e no bolso eu tinha exatos 100Kc, que daria para pagar a passagem e tomar um café no aeroporto. À 1h eu ainda estava no ponto, sozinha, nevando e claro, eu chorando porque a estação estava fechada e a minha volta só tinham mendigos dormindo, o que sinceramente não estava me dando uma sensação de segurança, especialmente com a minha bagagem que atrapalhava minha locomoção. Numa cidade em que tudo é pontual, uma hora de atraso era porque eu realmente tinha entedido algo errado e o pior, não tinha como saber.

Já em estado de total desespero eu vi um táxi parar, o pisca alerta ser ligado e um homem correndo para dentro da estação. Logo imaginei que era o taxista tentando ir ao banheiro . Saí correndo em direção a ele e fiquei esperando ele voltar e claro, torcendo para ele falar inglês, porque eu teria que negociar uma corrida, já que só tinha euros e em notas de 50, o que é bem caro para um táxi, mas a essas alturas seria lucro conseguir fechar.

Ele tentou me cobrar muito além dos 50 euros e depois de eu chorar, explicar para ele que era todo o dinheiro que eu tinha, ele acabou se "comovendo" e aceitando. Pegou minha mala maior e foi em direção ao carro. Quando chegamos lá eu dei de cara com o táxi com o motorista dentro, ou seja, eu não tinha negociado com o dono do táxi. Ele pediu para esperar que ele explicaria o ocorrido e rolou uma grande discussão. A única coisa que consegui sacar é que o táxi estava fora de serviço e eles supostamente eram amigos.

O motorista saiu do carro, pegou minha mala emburrado, enfiou no porta mala. Entrei com medo, mas o que eu faria? Nem táxi passava no lugar que eu estava e muitos deles nem inglês falam, inclusive o taxista do carro em que eu estava. Depois de uns 10 minutos andando, o "negociador" perguntou qual era o horário do meu vôo e aí explicou que eles teriam que passar num lugar antes, mas que não demorariam muito. Seriam 15 minutos.

De repente o carro parou na frente de um puteiro, separaram uma grana e o cara falou para eu esperar e então me trancaram no carro. Novamente entrei em desespero, mas não sabia o que fazer, já que minha bagagem estava no porta malas. Devo ter esperado por uns 15 minutos que pareceram horas e então somente o motorista voltou. Entrou no táxi, falou "airport" e tentou por um tempão perguntar qual era o terminal do meu vôo. Quando cheguei no aeroporto já eram quase 2h da matina e dormir foi impossível, pois tinham vários mendigos dormindo por lá e uma mulher falando no alto-falante para tomar cuidado com a bagagem, o que me fez não relaxare só conseguir apagar quando às 6h30, seis horas após eu ter saído de casa, eu embarcar rumo a Paris.

Claro que todo o stress não tirou qualquer encanto que tenho pela cidade. Praga é sim uma cidade que todos devem conhecer um dia e os perrengues sempre se transformam em histórias engraçadas para a gente contar depois.

Um comentário:

Alexandre disse...

olha só, não conhecia este blog seu, parece que escreve mais aqui, vou vir mais vezes.

ow, que viagem doida hein? um dia ainda faço uma assim, rs.

beijos.